Sara Martins, Cláudia Tomé Silva e Ana Simão, recordam “Mulheres que escreveram e não li”
A performance integra as comemorações do aniversário do Museu Municipal de Faro, e está marcada para o dia 22 de Março, pelas 22h nos claustros do museu.
Habituadas a partilhar o palco na performance de Spoken Word “Roer o Silêncio”, Sara Martins, Cláudia Tomé Silva e Ana Simão regressam ao palco para homenagear a voz feminina da poesia algarvia menos conhecida.
Conversamos com a Cláudia Tomé Silva que nos contou um pouco mais sobre o espetáculo.
Porquê “Mulheres que escreveram e não li”? Sentes que ainda há muitos autores esquecidos que mereciam mais destaque?
No Algarve ainda há inúmeros autores e artistas esquecidos sim, em várias áreas. E mulheres sistematicamente esquecidas é um fenómeno global. Mulheres cientistas, mulheres inventoras, mulheres criadoras, cujos feitos eram omitidos porque, lá está, a história também era, por norma, escrita por homens que, ou se apropriavam dos seus trabalhos ou decidiam que os feitos delas não mereciam destaque!
Este fenómeno está, felizmente, a ser cada vez mais contrariado, pelo trabalho precioso feito por inúmeras estudiosas e investigadoras, um pouco por toda a parte. Em Portugal, destaco o trabalho da Rosa Azevedo, com o curso "Mulheres Raras", desde 2020 e da Lúcia Vicente, natural de Faro, com o livro "Portuguesas com M Grande", que teve a primeira edição em 2018.
O título é inspirado num poema da Inês Jacob, que lemos no fim da primeira edição do Roer o Silêncio. E no fundo, sem sabermos, já estávamos a fazer uma ponte para esta nova performance!
A nossa performance inclui-se neste movimento global de recuperação da História das Mulheres. Em 2022, senti uma necessidade enorme e crescente de identificar nomes de mulheres que escreviam no tempo dos conhecidos e sempre nomeados: António Aleixo, Cândido Guerreiro, João Lúcio, João de Deus e por aí fora!... Eu não sabia nomear nenhuma e não conseguia tolerar mais isso! Então meti mãos à obra e fui à procura dessas mulheres. Quando reuni informação e bibliografia suficientemente interessante para criar uma performance senti que precisava de mais mãos e mais cabeças para colocar as coisas em marcha e foi aí que lancei o convite à Sara Martins e à Ana Simão, dando assim também uma continuidade ao nosso trabalho no “Roer do Silêncio”.
À semelhança do “Roer do Silêncio”, esta performance volta a focar-se muito nas temáticas feministas. Em que é que ainda assim os espetáculos diferem, não só do ponto de vista temático mas também estético?
São dois espetáculos muitos distintos. O “Roer do Silêncio" é composto pelos nossos textos, à exceção da minha parte que tem um ou outro poema de autores contemporâneos. É a nossa visão, a nossa voz, a nossa perspetiva. No Mulheres, as protagonistas são estas cinco mulheres fantásticas que nos encantaram e queremos que o público também as conheça e se encante com elas. Eu, a Sara e a Ana somos meros canais, veículos, instrumentos. A música original, criada pelo Ælf vem acrescentar mais profundidade e densidade ao trabalho. Estamos muito satisfeit@s com o resultado final!
O programa da noite estende-se até às meia-noite e conta ainda com uma atuação do Coral Infantil Ossónoba e um concerto intimista do músico JP Simões. A entrada é gratuita.